QUALIDADE DA ÁGUA PARA OS ACARÁS-DISCO
Enviado: 09 Mai 2020, 18:16
A QUALIDADE DA ÁGUA PARA OS ACARÁS-DISCO
Prof. WILSON VIANNA
Artigo publicado originalmente na revista Mania de Bicho de novembro de 2006
Acredito que a parte mais importante para a obtenção de sucesso na criação do acará-disco seja aquela relacionada com a qualidade da água do seu aquário. Existe uma série de questionamentos colocados por aqueles aquariofilistas que se aventuram na procriação deste interessante animal, que dão asas à imaginação e mãos a criatividade. Alguns comentam que os discos não criam ou não crescem quando a água não apresenta os exatos parâmetros físico-químicos; outros afirmam que quando a água não está muito ácida os alevinos e os juvenis ficam bastante suscetíveis a enfermidades; há aqueles que utilizam determinados tipos de folhagem para condicionar a água do aquário porque só assim seus discos desovam; outros usam uma série de produtos químicos importados e filtros de última geração e finalmente existem aqueles que nada fazem no preparo da água dos seus discos, simplesmente tiram-na do poço, da mina ou da torneira e colocam-na nos seus aquários de discos. Mas afinal quem está certo?
A água no habitat do acará disco
Os discos, quando em liberdade, vivem em água de excelente qualidade e apesar dos hibridismos realizados em cativeiro, entre espécies distintas, que modificaram a sua anatomia externa, eles conservaram a exigibilidade relativamente a excelência da qualidade da água para sobreviverem e principalmente para procriarem.
De acordo com a literatura relacionada, a água nos igarapés e lagos do rio negro apresenta a seguinte especificação: quente, cor de chá, com correnteza branda, com pH ácido e quanto à dureza é muito baixa: água mole.
Dados literários especificam que a água do Rio Negro em certos trechos possui pH entre 4.0 e em outros trechos pode chegar a pH 6.0, enquanto que no rio Madeira o pH da água situa-se em torno de 6.5 a 6.8.
Quanto à temperatura a maioria dos livros informa que a água do Habitat do acará Disco fica em torno de 27 a 29 graus.
Convém aqui ressaltar, a título de curiosidade, que o criador e pesquisador Jack Wattley, um dos nomes mais respeitados do mundo do disco, informou em seu conhecido livro “Handbook of Discus”, que esteve coletando discos selvagens, na localidade de Carauari, no Rio Juruá e verificou que a temperatura da água naquele local era de 21 graus, em função da vegetação densa da floresta praticamente nenhuma luz solar chega e
a temperatura nunca se eleva. Ele cita também que naquele local a água é clara, não chega a meio metro de profundidade e o fundo é arenoso.
Em minha viagem de pesquisa ao Alto Rio Negro estudei os parâmetros físico-químicos e biológicos, do habitat de Acará-disco, no complexo do Rio de Daracuá, situado no arquipélago de Mariuá, na Bacia do médio Rio Negro. Relativamente à água foram verificados em vários rios, igarapés e lagos os seguintes parâmetros:
a) Água = cor de chá,
b) Substrato = composto de matéria vegetal em decomposição; folhas e troncos.
c) O local tem muitas árvores e troncos sob a água.
d) pH = 5.0;
e) GH = 1.0;
f) Nitrito, nitrato e amônia = 0 (zero),
g) Temperatura = 28 graus,
h) Transparência (disco de Secchi) = 3 metros,
i) Condutividade elétrica = 10 microsiemens / cm.
Venho já há alguns anos visitando, acompanhando, orientando e principalmente observando o manejo dos criadores no sentido das exigências relativas à qualidade da água para os discos. A seguir apresento um resumo das minhas observações:
Nas grandes cidades a água é tratada e condicionada em estações de distribuição e geralmente são utilizados os seguintes produtos: cloro, flúor, sulfato de alumínio e cal virgem. O tratamento supracitado visa tornar a água própria para o uso doméstico e assim ela deve chegar às residências isentas de impurezas bem como daqueles elementos químicos, exceto o cloro e com o pH em torno de 7.0.
A maioria dos criadores de acará disco tem consciência da exigência daquele ciclideo quanto à qualidade da água então procura condicioná-la na proximidade dos seguintes parâmetros físico-químicos: pH entre 6.4 a 6.8, temperatura entre 27 a 29oC, e o DH por volta de 3 a 8.
Muitos criadores mantêm reservatórios onde a água fica armazenada por alguns dias, sendo filtrada e só depois utilizada para os seus peixes. Para diminuir o pH alguns utilizam os acidificantes industrializados, outros utilizam troncos envelhecidos e alguns utilizam folhas de amendoeira ou folhas de tamarindeiro. Para diminuir a dureza alguns utilizam filtros próprios de osmose reversa ou filtragem com turfa.
E quanto às trocas de água como os criadores estão procedendo?
- A maioria dos mantenedores de discos (aquaristas) realiza duas ou três trocas de um terço da água do aquário semanalmente, no entanto, os criadores realizam trocas que variam entre 50% a 100% diariamente.
Vejamos agora como estão procedendo alguns dos maiores criadores de Acará- disco do exterior, relativamente aos parâmetros físico-químicos e biológicos da água dos seus discos:
Schmidt-Focke (Alemanha) – pH entre 6.0 a 6.5; DH entre 4.0 e 5.0; temperatura 28º a 29º; Troca 1/4 a 1/5 da água do aquário diariamente;
Feiller – (EUA) – pH 6.0 a 6.8; DH entre 6.0 e 7.0; temperatura 28º a 31º; trocas de 50% nos aquários de criação a cada dois dias, trocas de 40% nos aquários de adultos a cada três dias;
Schulze (Inglaterra) - pH entre 6.5 a 6.8; DH aproximadamente 3.0; temperatura 29,5º para adultos e 32º para juvenis e filhotes; troca 20% diariamente para reprodutores e adultos, troca 2% a 20% para juvenis diariamente e trocas de 2% a 10% diariamente para filhotes;
Wong – (Malásia) – pH 6.0 a 7.5; DH entre 2.0 a 6.0; temperatura 28º para casais, adultos e juvenis, 30º a 32º para alevinos; trocas diárias de 1/3 a 2/3 para casais e adultos e de 1/3 de manhã, 1/3 ao meio dia e 1/3 à noite para alevinos e juvenis;
Gobel (Alemanha) - pH 6.0 a 6.7 para casais, pH 5.2 a 6.7 para juvenis, pH 6.0 a 6.7 para alevinos; DH 2.0 a 4.0, temperatura 28º a 29º para adultos e filhotes e 30º para juvenis; trocas de 10% ao dia para os casais, adultos e filhotes e de 30% ao dia para os juvenis;
Shirase (Japão) - pH 5.5 a 6.5 para casais, pH 6.0 a 7.0 para jovens e filhotes, pH 6.0 a 7.0 para adultos; DH aproximadamente 6.0, temperatura: 28º a 30º para casais, 29º a 31º para adultos, 30º a 32º para juvenis, 30º a 33º para alevinos; trocas: ¼ duas a três vezes por semana para os casais, 50% semanalmente para os adultos, 70% diariamente para os juvenis e 80% a 100% diariamente para os alevinos;
Long (Zimbabwe – África do sul) - pH 7.0 para todos os peixes; DH aproximadamente 3.5; temperatura 30º para todos os peixes; trocas de 30% diariamente para adultos, 20% diariamente para juvenis e 50% diariamente para casais com filhotes;
Handley (Nova Zelândia) pH 7.0 para todos os peixes; DH aproximadamente 2.5; temperatura 26,5º no inverno e 29,5º no verão; trocas de ¼ duas vezes por semana para todos os peixes;
Nakamura (Japão) - no geral pH 6.8, na época da desova pH 5.5 a 5.8, quando os filhotes começam a comer pH 6.2; DH aproximadamente 2.5; temperatura 28º a 29º para casais, 30º para alevinos e 32º para juvenis; trocas de 30% a 50% a cada três dias para os casais, ½ a 2/3 duas vezes por dia para os alevinos e ½ a 2/3 diariamente para os juvenis;
Em face do exposto, podemos concluir que, em geral, os criadores mais bem sucedidos do mundo trabalham com pH abaixo de 7.0, com a dureza abaixo de 8.0, a temperatura entre 27 e 30º e dão bastante ênfase as trocas de água, inclusive, diversificando conforme a faixa etária dos seus discos.
A observância tem nos revelado que os acarás-disco ficam muito saudáveis quando as condições ótimas lhes são oferecidas e, assim, podemos concluir que o seu desenvolvimento será diretamente proporcional à alimentação, aos parâmetros físico-químicos da água e, principalmente, a quantidade de trocas de água. As trocas diárias oferecem um excelente resultado.
Artigo publicado originalmente na revista Mania de Bicho de novembro de 2006
Referências bibliográficas:
Axerold, H, R. All about discus, 1970
Au,D. Back to Nature - O livro dos discos, 1998
Wattley,J. Discus for the Perfectionists, 1991
Vianna,W.O, Expedição de Pesquisa ao Alto Rio Negro
Prof. WILSON VIANNA
Artigo publicado originalmente na revista Mania de Bicho de novembro de 2006
Acredito que a parte mais importante para a obtenção de sucesso na criação do acará-disco seja aquela relacionada com a qualidade da água do seu aquário. Existe uma série de questionamentos colocados por aqueles aquariofilistas que se aventuram na procriação deste interessante animal, que dão asas à imaginação e mãos a criatividade. Alguns comentam que os discos não criam ou não crescem quando a água não apresenta os exatos parâmetros físico-químicos; outros afirmam que quando a água não está muito ácida os alevinos e os juvenis ficam bastante suscetíveis a enfermidades; há aqueles que utilizam determinados tipos de folhagem para condicionar a água do aquário porque só assim seus discos desovam; outros usam uma série de produtos químicos importados e filtros de última geração e finalmente existem aqueles que nada fazem no preparo da água dos seus discos, simplesmente tiram-na do poço, da mina ou da torneira e colocam-na nos seus aquários de discos. Mas afinal quem está certo?
A água no habitat do acará disco
Os discos, quando em liberdade, vivem em água de excelente qualidade e apesar dos hibridismos realizados em cativeiro, entre espécies distintas, que modificaram a sua anatomia externa, eles conservaram a exigibilidade relativamente a excelência da qualidade da água para sobreviverem e principalmente para procriarem.
De acordo com a literatura relacionada, a água nos igarapés e lagos do rio negro apresenta a seguinte especificação: quente, cor de chá, com correnteza branda, com pH ácido e quanto à dureza é muito baixa: água mole.
Dados literários especificam que a água do Rio Negro em certos trechos possui pH entre 4.0 e em outros trechos pode chegar a pH 6.0, enquanto que no rio Madeira o pH da água situa-se em torno de 6.5 a 6.8.
Quanto à temperatura a maioria dos livros informa que a água do Habitat do acará Disco fica em torno de 27 a 29 graus.
Convém aqui ressaltar, a título de curiosidade, que o criador e pesquisador Jack Wattley, um dos nomes mais respeitados do mundo do disco, informou em seu conhecido livro “Handbook of Discus”, que esteve coletando discos selvagens, na localidade de Carauari, no Rio Juruá e verificou que a temperatura da água naquele local era de 21 graus, em função da vegetação densa da floresta praticamente nenhuma luz solar chega e
a temperatura nunca se eleva. Ele cita também que naquele local a água é clara, não chega a meio metro de profundidade e o fundo é arenoso.
Em minha viagem de pesquisa ao Alto Rio Negro estudei os parâmetros físico-químicos e biológicos, do habitat de Acará-disco, no complexo do Rio de Daracuá, situado no arquipélago de Mariuá, na Bacia do médio Rio Negro. Relativamente à água foram verificados em vários rios, igarapés e lagos os seguintes parâmetros:
a) Água = cor de chá,
b) Substrato = composto de matéria vegetal em decomposição; folhas e troncos.
c) O local tem muitas árvores e troncos sob a água.
d) pH = 5.0;
e) GH = 1.0;
f) Nitrito, nitrato e amônia = 0 (zero),
g) Temperatura = 28 graus,
h) Transparência (disco de Secchi) = 3 metros,
i) Condutividade elétrica = 10 microsiemens / cm.
Venho já há alguns anos visitando, acompanhando, orientando e principalmente observando o manejo dos criadores no sentido das exigências relativas à qualidade da água para os discos. A seguir apresento um resumo das minhas observações:
Nas grandes cidades a água é tratada e condicionada em estações de distribuição e geralmente são utilizados os seguintes produtos: cloro, flúor, sulfato de alumínio e cal virgem. O tratamento supracitado visa tornar a água própria para o uso doméstico e assim ela deve chegar às residências isentas de impurezas bem como daqueles elementos químicos, exceto o cloro e com o pH em torno de 7.0.
A maioria dos criadores de acará disco tem consciência da exigência daquele ciclideo quanto à qualidade da água então procura condicioná-la na proximidade dos seguintes parâmetros físico-químicos: pH entre 6.4 a 6.8, temperatura entre 27 a 29oC, e o DH por volta de 3 a 8.
Muitos criadores mantêm reservatórios onde a água fica armazenada por alguns dias, sendo filtrada e só depois utilizada para os seus peixes. Para diminuir o pH alguns utilizam os acidificantes industrializados, outros utilizam troncos envelhecidos e alguns utilizam folhas de amendoeira ou folhas de tamarindeiro. Para diminuir a dureza alguns utilizam filtros próprios de osmose reversa ou filtragem com turfa.
E quanto às trocas de água como os criadores estão procedendo?
- A maioria dos mantenedores de discos (aquaristas) realiza duas ou três trocas de um terço da água do aquário semanalmente, no entanto, os criadores realizam trocas que variam entre 50% a 100% diariamente.
Vejamos agora como estão procedendo alguns dos maiores criadores de Acará- disco do exterior, relativamente aos parâmetros físico-químicos e biológicos da água dos seus discos:
Schmidt-Focke (Alemanha) – pH entre 6.0 a 6.5; DH entre 4.0 e 5.0; temperatura 28º a 29º; Troca 1/4 a 1/5 da água do aquário diariamente;
Feiller – (EUA) – pH 6.0 a 6.8; DH entre 6.0 e 7.0; temperatura 28º a 31º; trocas de 50% nos aquários de criação a cada dois dias, trocas de 40% nos aquários de adultos a cada três dias;
Schulze (Inglaterra) - pH entre 6.5 a 6.8; DH aproximadamente 3.0; temperatura 29,5º para adultos e 32º para juvenis e filhotes; troca 20% diariamente para reprodutores e adultos, troca 2% a 20% para juvenis diariamente e trocas de 2% a 10% diariamente para filhotes;
Wong – (Malásia) – pH 6.0 a 7.5; DH entre 2.0 a 6.0; temperatura 28º para casais, adultos e juvenis, 30º a 32º para alevinos; trocas diárias de 1/3 a 2/3 para casais e adultos e de 1/3 de manhã, 1/3 ao meio dia e 1/3 à noite para alevinos e juvenis;
Gobel (Alemanha) - pH 6.0 a 6.7 para casais, pH 5.2 a 6.7 para juvenis, pH 6.0 a 6.7 para alevinos; DH 2.0 a 4.0, temperatura 28º a 29º para adultos e filhotes e 30º para juvenis; trocas de 10% ao dia para os casais, adultos e filhotes e de 30% ao dia para os juvenis;
Shirase (Japão) - pH 5.5 a 6.5 para casais, pH 6.0 a 7.0 para jovens e filhotes, pH 6.0 a 7.0 para adultos; DH aproximadamente 6.0, temperatura: 28º a 30º para casais, 29º a 31º para adultos, 30º a 32º para juvenis, 30º a 33º para alevinos; trocas: ¼ duas a três vezes por semana para os casais, 50% semanalmente para os adultos, 70% diariamente para os juvenis e 80% a 100% diariamente para os alevinos;
Long (Zimbabwe – África do sul) - pH 7.0 para todos os peixes; DH aproximadamente 3.5; temperatura 30º para todos os peixes; trocas de 30% diariamente para adultos, 20% diariamente para juvenis e 50% diariamente para casais com filhotes;
Handley (Nova Zelândia) pH 7.0 para todos os peixes; DH aproximadamente 2.5; temperatura 26,5º no inverno e 29,5º no verão; trocas de ¼ duas vezes por semana para todos os peixes;
Nakamura (Japão) - no geral pH 6.8, na época da desova pH 5.5 a 5.8, quando os filhotes começam a comer pH 6.2; DH aproximadamente 2.5; temperatura 28º a 29º para casais, 30º para alevinos e 32º para juvenis; trocas de 30% a 50% a cada três dias para os casais, ½ a 2/3 duas vezes por dia para os alevinos e ½ a 2/3 diariamente para os juvenis;
Em face do exposto, podemos concluir que, em geral, os criadores mais bem sucedidos do mundo trabalham com pH abaixo de 7.0, com a dureza abaixo de 8.0, a temperatura entre 27 e 30º e dão bastante ênfase as trocas de água, inclusive, diversificando conforme a faixa etária dos seus discos.
A observância tem nos revelado que os acarás-disco ficam muito saudáveis quando as condições ótimas lhes são oferecidas e, assim, podemos concluir que o seu desenvolvimento será diretamente proporcional à alimentação, aos parâmetros físico-químicos da água e, principalmente, a quantidade de trocas de água. As trocas diárias oferecem um excelente resultado.
Artigo publicado originalmente na revista Mania de Bicho de novembro de 2006
Referências bibliográficas:
Axerold, H, R. All about discus, 1970
Au,D. Back to Nature - O livro dos discos, 1998
Wattley,J. Discus for the Perfectionists, 1991
Vianna,W.O, Expedição de Pesquisa ao Alto Rio Negro